12.6.12

AQUELA SOBRE OS LIVROS NO FERIADÃO

Li muito na última semana. Ora pode vontade própria, ora por absoluta falta de opção. Na verdade, quem dera se todas as nossas faltas de opções rendessem mais e mais leituras, não é? E quem a gente não precisasse só mover os olhos para querer um livro, ao tédio do teto de casa ou de um hospital.

Sigamos.

Comprei meio que sem querer, no domingo passado, o último romance do Jô Soares – As Esganadas. Sempre tive um pé atrás com o Jô, mas depois de devorar em quinze dias “O Xangô de Baker Street” ano passado (As Esganadas terminei em 6 dias), eu passei a me interessar pelas coisas que ele escreve – e isso não inclui aquelas frases de botequim que sempre são compartilhadas no Facebook. As Esganadas é engraçadinho, divertido, tem umas tiradas bem interessantes, mas das coisas que li do Jô, essa, sem dúvida, é mais fraca. Saí com a sensação de que a história ainda iria começar, e ela já estava terminando. Fora que achei a narrativa muito parecida com “Xangô”. Bastante mesmo. Mas leia, leia. Vale a pena. Só por ter um personagem português (Tobias Esteves) que inspirou Fernando Pessoa a escrever “Tabacaria”, já vale a pena.

Aí, como já estava com a mão na massa, resolvi revisitar algumas coisas. Há alguns anos, acho que 5 ou 6, eu li um conto chamado “A Estranha Máquina Extraviada” - aqui para ler - e fiquei encantado pelo tema e narrativa (Com Regina e Jane, no Projeto Arrastão, esse texto até serviu pra agradecer doação de impressora hahahaha). Os personagens, o cenário, era tudo tão bonito, que ficou marcado pra mim. A história me lembrou muito minha cidade – Salinas, em Minas Gerais. Fui pesquisar sobre o autor, José J. Veiga, e acabei descobrindo outro texto maravilhoso dele, que também fala sobre a chegada de elementos estranhos à uma realidade – A Usina Atrás dos Morros, de 1959. Esse, infelizmente, não achei o link na internet. Recomendo demais esses dois contos. O segundo, então, é triste demais, mas bem a cara da modernidade que chega arrasando tudo com a desculpa do progresso. (aqui tem uma análise bacana das obras de Veiga).

E ao ler “A Usina Atrás dos Morros” eu acabei me lembrando do Sarau da Roça – Vida no Chão e, consequentemente, do Daniel Fagundes. O conheci em 2008, no Núcleo de Comunicação Maré Alta, e virei fã de seus textos depois que comprei “Lágrima Terra”, que ele publico junto com o André Luiz. Os dois são do NCA – Núcleo de Comunicação Alternativa. Em “Negro Guerra”, Daniel terminou assim seu texto. E isso ficou na minha cabeça.


"Dramático é perambular pela casa com insônia,
enquanto as mulheres da nossa quebrada
sonham em brilhar como Antônias!".

Lembra alguma música esse trecho, esse título, esse ritmo de escrita?
E tudo isso pra dizer nada. Só queria escrever mesmo. E dizer que revisitei todos esses livros, só lembrando de um, e pulando pra outro. E depois pra outro, pra outro.
Ler, assim como rir, ainda pode ser o melhor remédio pra muita coisa.

24.4.12

AQUELA SOBRE O "SISTEMA" E P. FERNANDES


O poeta, historiador, sociólogo, filósofo e policial nas horas vagas, Capitão Nascimento, disse certa vez: o sistema é foda, parceiro. E é. Quando alguns amigos, principalmente ligados ao movimento Hip Hop, falavam sobre o “sistema”, eu sempre imaginava uma imagem escura, tipo um demônio, vestido uma cartola, com várias pessoas, nós, amarrados a cabos, como se fossem marionetes. O sistema seria ele, a vítima, nós. Essa é a imagem que eu sempre tive.
Preste atenção nessa foto. Daqui a pouco explico
Aí veio um belo dia, e entendi o que era o tal Sistema. Eu era o Sistema. Ou, eu contribuo pro Sistema existir. Não em período integral, mas toda vez que reproduzo algo que não gostaria que fizessem comigo. Ou que soubesse que é errado, mas mesmo assim fizesse. Aqui, várias justificativas: ah, todo mundo faz. Ah, apenas eu vou ficar pra trás? E por aí vai.



O Sistema é a manutenção do status quo. Daquilo que oferece ganhos a alguém, que normalmente não somos nós, reles mortais. O “jeitinho brasileiro” que faz o Sistema existir, o esquema feito no Imposto de Renda anualmente que faz o Sistema existir. O NetCat que faz o Sistema existir. O que fazemos no trabalho, na família nos faz ser parte de um Sistema maior; mundial. E aqui estamos vencendo; olhem só a Europa como está? Todo Sistema um dia morre...pra nascer outro.



O Sistema é alimentado pela falta de caráter, de vontade, de bondade e de paciência. Pelo julgamento excessivo e pela falta de julgamento. Pela vontade de ganhar dinheiro, ou de não gastar nenhum, e mesmo assim descansar em berço esplêndido. Eu nunca quis “brigar com o Sistema”. Ele é tão grande, tão complexo, que é burro, falho. Tem brechas. Permite que você, eu, e quem mais quiser, possa usar dele próprio, o Sistema, para combatê-lo, derrubá-lo. Ou não é isso que o Yunus faz com o Grammen Bank? Quer um Sistema mais poderoso que o financeiro? E mesmo assim Yunus conseguiu, entre suas falhas, suas inseguranças, criar uma alternativa a ele próprio. Genial. Acredito nisso: usar o Sistema para resignificar o Sistema.
O Sistema é a manutenção do status quo. Daquilo que oferece ganhos a alguém, que normalmente não somos nós, reles mortais. O “jeitinho brasileiro” que faz o Sistema existir, o esquema feito no Imposto de Renda anualmente que faz o Sistema existir. O NetCat que faz o Sistema existir. O que fazemos no trabalho, na família nos faz ser parte de um Sistema maior; mundial. E aqui estamos vencendo; olhem só a Europa como está? Todo Sistema um dia morre...pra nascer outro.

O Sistema é alimentado pela falta de caráter, de vontade, de bondade e de paciência. Pelo julgamento excessivo e pela falta de julgamento. Pela vontade de ganhar dinheiro, ou de não gastar nenhum, e mesmo assim descansar em berço esplêndido. Eu nunca quis “brigar com o Sistema”. Ele é tão grande, tão complexo, que é burro, falho. Tem brechas. Permite que você, eu, e quem mais quiser, possa usar dele próprio, o Sistema, para combatê-lo, derrubá-lo. Ou não é isso que o Yunus faz com o Grammen Bank? Quer um Sistema mais poderoso que o financeiro? E mesmo assim Yunus conseguiu, entre suas falhas, suas inseguranças, criar uma alternativa a ele próprio. Genial. Acredito nisso: usar o Sistema para resignificar o Sistema.

Isso é usar o Sistema contra o Sistema. Olha esse exemplo. A Internet sempre traz coisas interessantes. Desde segunda, quando vi, estão rolando fotos de famosas sendo compartilhadas.Um Jpeg preto com a foto da Paula Fernandes (?) em destaque. Começou com uma foto da linda Babi Rossi, ontem. E uma chamada com o título “escândalo nacional”. Ao lado, uma série de informações sobre o Ficha Limpa.

E você deve estar se perguntando o que a Paula Fernandes (?) tem a ver com o Ficha Limpa? Com as informações que estão ao lado de sua imagem? Nada. Absolutamente nada. Alguém teve a sacada que as pessoas clicam se rolar uma foto de famoso, um título que chama ao escândalo. E materializou essa ideia. Acho genial. Perfeito. Mais honesto e inteligente que ficar dizendo “vocês só curtem bobagem enquanto o Brasil tá na merda”. 


As pessoas estão usando o Sistema contra o Sistema.
Achei uma das mais belas sacadas da internet dos últimos dias.

Em tempo, a Babi continua linda.
Casaria no primeiro horário vago na igreja mais próxima.

21.4.12

AQUELA SOBRE A BRASÍLIA CINZA


Sempre fui apaixonado por boas histórias, pela política, por JK.  Por sua biografia, trajetória e utopia. Todas elas, a começar pela crença na bondade do outro acima de toda e qualquer coisa. Ele se machucou muito por isso. Quando tomei consciência de que o mineiro Juscelino foi quem empreendeu Brasília, passei a ser apaixonado também pela cidade. Em 2010, graças a um trabalho para o Ministério da Cultura, pude conhecer a cidade que sempre sonhei conhecer. Linda. Do começo ao fim. De tudo. Até o fim de dia em Brasília é diferente, encantador, romântico. Apaixonante.


"Genial" Oliveira Gonçalves - G.O.G: o poeta do RAP. Também de Brasília.

Transferir a capita do Rio de Janeiro para o centro do país não foi uma ideia genial nascida na cabeça de JK, mas uma percepção. E uma promessa, dizem. Conta a biografia de presidente Bossa Nova que durante um dos comícios que fez por todo o Brasil, JK teria sido questionado por um agricultor: quero ver se o senhor é homem de palavra se cumprir o que tem na constituição: transferir a capital do Brasil para o planalto central. JK procurou saber mais sobre que o agricultor queria dizer com aquilo, e fez a promessa; mudaria a capital para o meio do Brasil se fosse eleito presidente. E foi.  E fez.  (Desde a primeira constituição da república, havia um dispositivo que previa a mudança da Capital Federal do Rio para o interior do país, no Planalto Central. Isso foi escrito em 1891. E aquele agricultor sabia disso).

Brasília foi um desafio, e um sonho. Construir uma capital inteira, do nada, no meio do mato – sem tom pejorativo. Muita gente morreu, conta a História. JK quase sofreu processo de impedimento, continua a História. Mas ela, Brasília, foi feita, erguida, criada. A cidade tem muitas lendas.  E histórias. Uma delas, a mais famosa, é descrita pela egiptóloga Iara Kerns e o empresário Ernani Figueras Pimentel no livro “Brasília Secreta”. O livro é fascinante. Sabia que Brasília é igualzinha uma cidade egípcia de mais de 3 mil anos atrás chamada Akhetaton? Os prédios, os símbolos de poder, de governança, todos eles ficam exatamente onde ficavam os de Akhetaton. Impressionante. Vale muito a pena ler esse livro, que apesar de curto, é maravilhoso. E inacreditável.

A primeira coisa que fiz quando cheguei em Brasília foi comprar esse livro, pois não o achava aqui em São Paulo.

Abaixo, dois vídeos sobre o livro, e as “coincidências” da cidade egípcia com Brasília. Os filmes são curtos e ruins. Trilha horrível e Off pior ainda, mas desconsidere tudo se conseguir, e concentre-se nas lindas histórias. Valem a pena.

Parte 1


Parte 2


Brasília, como cidade, é um presente pros meus olhos. Sou apaixonado por lá, mesmo tendo ido apenas uma vez. Mas sei que vou voltar. E pra morar algum tempo. O maior defeito de Brasília é ser a capital do país, mas quem governa é esperto. Sabe que uma capital longe de tudo, longe de todos, é meio caminho andado para evitar pressão do cidadãos.

Uma pena.

Feliz Aniversário, Brasília. Eu amo gostar de você.

18.4.12

AQUELA SOBRE O CÉLIO TURINO

Tem dia que a postagem não sai de jeito maneira. Mas tem maneiras de fazer as postagens saírem em alguns dias. Desde domingo eu estou lendo, entre um trabalho e outro, o livro “Ponto de Cultura – O Brasil de baixo para cima”, do Célio Turino. InsPIRAÇÃO pura. O Célio é um cara como poucos. Como poucos mesmo. Tive o prazer de o conhecer em abril de 2010 durante o lançamento do Ponto de Cultura Morarte, parceria entre o Sarau do Binho e o Movimento Pelo Direito à Moradia – MDM. Foi a primeira vez que o nome “Escola de Notícias” esteve em alguma produção. Emocionante. Sigamos.




No livro, Célio conta de uma forma absolutamente leve, literária, mágica, como foi o processo de construção do Programa Cultura Viva / Pontos de Cultura. E apresenta vários cases Brasil afora. Conta Célio que, a pedido de Gilberto Gil, desenhou em apenas duas madrugadas a espinha dorsal de uma iniciativa que hoje é inspiração e modelo para diversos países e tema de inúmeros trabalhos acadêmicos. Além da caneta, certeza que o Célio usou também o Amor pelo fazer cultural para escrever tudo em duas madrugadas. Isso mesmo, burocratas de plantão, duas madrugadas. Fazer acontecer hoje e agora.

Eu não vou contar o livro inteiro. É muita coisa bonita para pouco espaço. Mas se alguém quiser de presente, apesar de eu só ter um, me mande um e-mail que assim que eu terminar de ler ele será seu. > tony@escoladenoticias.org < Mas tenho que destacar duas coisas, senão não valerá a pena essa postagem


1 – Em 2010 eu viajei por algumas cidades Brasil afora fazendo um trabalho para o Ministério da Cultura. Lugares pelos quais eu me apaixonei profundamente. Muito pelas ideias, mas bem mais pelas pessoas que estão por lá. Em especial o bairro da Liberdade, em São Luis  - MA e o Nascedouro de Peixinhos, Recife / Olinda – PE (aqui começou a nascer o movimento Mangue Beat). Dois lugares que de tão incríveis, que de tão lindos, só poderiam ter nascido das mãos das pessoas que estão lá. Toda vez que a minha fé no que propus a fazer se enfraquece (sim, isso acontece com tudo mundo), me lembro em especial desses dois lugares; das historias que ouvi, das pessoas que conheci, e de como eles nunca desistiram de ser felizes, enquanto o restante do Brasil se preocupava em ter razão (como diz a Natty Mancio). Lembrar que existem pessoas assim, e que é nelas que temos que nos inspirar, é a melhor forma de fazer renascer a fé.  Deixemos de “mimimi”, e vamos fazer acontecer agora.
Nascedouro de Peixinhos, Olinda, PE.

2 – Tem um trecho do livro que quero compartilhar. Aliás, há vários, mas não cabem aqui. Um em especial para contar todo o resto. É uma referencia ao Eduardo Galeano. Diz assim:


“A utopia, assim como a linha do horizonte, está sempre à frente. Caminhamos alguns passos e o horizonte se desloca à frente, caminhamos novamente e mais adiante o horizonte se apresenta. ‘Para quê serve o horizonte, então?’, pergunta. Para isso mesmo, para que nos coloquemos em movimento. O horizonte/ utopia serve para caminhar”.

E o cara que desenhou um programa que hoje está em todo país não foi nem ao menos eleito Deputado Federal em 2010. E o cara que viajou cada pedaço do país para “de-silenciar” as oportunidades de acesso a recursos nem ao menos é o Ministro da Cultura.  Ou coisa que o valha.

O sistema é foda, parceiro.
O Capitão Nascimento tinha razão.

12.4.12

AQUELE SOBRE A TV CULTURA

Certa vez a TV Cultura veio ao Campo Limpo trocar uma ideia sobre o Escola de Notícias. Se liga.

5.4.12

SEVIROLOGIA DA NATUREZA

A natureza e sua pegada
E a Natureza, espertinha feito um Deputado Federal pego recebendo propina, e que nega tudo veementemente, mais uma vez mostra que tem lá sua dose gigante de Sevirologia. No quintal de casa, entre uma estátua e outra, uma goteira provocada por chuva antiga andou deixando a sua marca, e lembrando que não adianta jogar cimento em tudo, pois a terra não consegue respirar. Ow, me deixa respirar!





3.4.12

LUZ, PORTA E AÇÃO!

Eu escrevi três textos sobre a incrível arte de perder a fé. Em si e no outro. Todos impublicáveis. Reescritos e desistidos, antes mesmo da revisão. Então, fazer da porta uma oportunidade de criação foi a única escapatória saudável para falar sobre a Sevirologia de Ser. Aquela em que a dia a dia a gente improvisa o que somos, na esperança de achar uma resposta útil até meados no ano.

Aqui, canetinhas, porta de casa e uma máquina fotográfica transformam um questionamento em uma animação até que apresentável.



Simples, com erro, mas sincera.
Mas como eu gostaria que as coisas fossem.